Sou uma mulher na casa dos 30 que escolheu viajar pelo mundo em vez de ter filhos. O julgamento da sociedade tem sido muito real

É uma daquelas coisas que as pessoas não dizem abertamente, mas você sente nos olhares, no tom de voz, na maneira como fazem certas perguntas.

“Um dia você vai mudar de ideia.”
“Você não vai se arrepender depois?”
“Quem vai cuidar de você quando for mais velha?”

Já perdi a conta de quantas vezes ouvi essas frases — ou alguma variação delas. Sou uma mulher na casa dos 30 que escolheu uma vida de passaportes e passagens de avião em vez de fraldas e creches.

E, embora eu não esteja aqui para criticar as escolhas de ninguém, posso dizer que a sociedade tem muito a dizer quando uma mulher decide que não quer ter filhos — especialmente se ela troca o chamado “relógio biológico” por um cartão de embarque.

A verdade é que essa decisão não é uma fase de rebeldia ou algo que escolhi de forma leviana. Não se trata de evitar responsabilidades ou ter medo de se estabelecer. Trata-se de construir uma vida que pareça autêntica para mim.

Mas isso não impediu os julgamentos de surgirem — de amigos, da família, de estranhos em jantares que acham que sabem mais sobre a minha vida do que eu.

Mas há algo que quase ninguém comenta: o peso da pressão para seguir um caminho que você nunca quis e o quão libertador (e assustador) pode ser decidir se afastar completamente dele.

1) Eu não estou “perdendo algo”, estou apenas escolhendo diferente

Uma das primeiras suposições que as pessoas fazem quando você diz que não quer ter filhos é que você está perdendo a melhor parte da vida.

Falam sobre a alegria de ser pai ou mãe, o amor incondicional, os momentos mágicos que supostamente eu nunca vou entender porque não terei um filho me chamando de “mãe”.

Mas a verdade é que escolher não ter filhos não significa que minha vida seja vazia ou incompleta. Significa apenas que ela está cheia de outras maneiras.

Para mim, esses momentos mágicos acontecem quando vejo o sol nascer em uma cidade nova, quando compartilho histórias com estranhos que se tornam amigos para a vida toda ou quando me encontro diante de paisagens tão grandiosas que me fazem sentir pequena da melhor maneira possível.

Não estou sacrificando um tipo de realização por outro — estou apenas perseguindo uma versão da vida que faz sentido para mim. Ela pode parecer diferente do que a sociedade espera, mas não é menos significativa.

2) Me recuso a viver minha vida baseada no medo

Uma pergunta que ouço muito é: “Você não tem medo de se arrepender depois?”

Essa era uma questão que costumava me incomodar porque, para ser sincera, eu mesma já me perguntei isso antes. Houve um tempo em que me preocupava com como seria o meu futuro sem filhos — se eu me sentiria solitária ou deslocada conforme os anos passassem.

Mas então percebi algo: tomar uma decisão com base no medo não é realmente viver.

Se eu tivesse deixado o medo tomar o controle, nunca teria feito aquela viagem sozinha para a América do Sul, onde me perdi nas ruas de Bogotá e acabei encontrando um pequeno café que virou meu refúgio.

Nunca teria mergulhado na Indonésia, apesar do meu pavor de águas profundas, ou confiado em mim mesma para comprar uma passagem só de ida sem nenhum plano além de seguir minha intuição.

Esses momentos não foram apenas aventuras — foram provas de que sou capaz de lidar com qualquer coisa que a vida colocar no meu caminho. E se consegui fazer isso do outro lado do mundo, por que deixaria o medo decidir como eu construo minha vida aqui?

3) Acredito que felicidade não tem um único formato

Há uma frase de Eleanor Roosevelt que sempre ficou comigo: “A felicidade não é um objetivo; é um subproduto de uma vida bem vivida.”

Por muito tempo, eu achava que a felicidade era algo que você encontrava seguindo uma fórmula específica — estudar, conseguir um bom emprego, casar, ter filhos. Mas em algum momento percebi que essa fórmula não foi feita para mim.

Para mim, a felicidade tem um formato um pouco diferente. Ela está no sentimento de estar no topo dos Cliffs of Moher, com o vento bagunçando meu cabelo e o cheiro do mar ao meu redor. Está em tentar — e falhar — aprender a dizer “obrigado” em cinco idiomas diferentes durante uma única semana na Europa.

Está em acordar às quatro da manhã para pegar um trem para uma cidade onde nunca estive antes, sem saber o que encontrarei, mas sabendo que valerá a pena.

O que a sociedade nem sempre entende é que não existe um único roteiro para a felicidade. Ser pai ou mãe pode ser a definição de uma vida bem vivida para algumas pessoas, e isso é lindo.

Mas, para mim, a felicidade vem da exploração, das conexões e das memórias que construo nos cantos do mundo que nunca imaginei que veria. Isso não torna a minha felicidade menos real — apenas a torna minha.

4) Sei que liberdade também é uma forma de responsabilidade

No Butão, existe um conceito chamado “Felicidade Interna Bruta”. Em vez de medir o progresso pelo dinheiro ou pelo sucesso material, o país avalia o bem-estar e a realização das pessoas.

Quando aprendi sobre isso em uma viagem para lá, comecei a refletir sobre como medimos o sucesso em nossas próprias vidas — e como a liberdade e a realização muitas vezes são deixadas de fora dessa equação.

A liberdade de viajar, de viver nos meus próprios termos, de priorizar experiências em vez de expectativas — isso não é uma fuga das responsabilidades. Na verdade, é um tipo de responsabilidade em si. Tenho que escolher conscientemente o que me faz feliz, o que está alinhado com meus valores e como gasto meu tempo e minha energia.

Liberdade não é apenas fazer o que se quer; é saber o que se quer e ter coragem para seguir esse caminho, mesmo quando ele foge do que é esperado.

5) Aprendi a deixar de lado as expectativas dos outros

Houve um tempo em que eu sentia que precisava me justificar o tempo todo. Cada reunião de família, cada conversa casual com um estranho, parecia um interrogatório.

As pessoas perguntavam por que eu ainda não tinha “assentado”, ou diziam, com uma mistura de pena e certeza, que eu me arrependeria de não ter filhos um dia. Por muito tempo, essas palavras ficaram comigo, como se fossem verdades que eu precisava carregar.

Mas a verdade é que viver para atender às expectativas dos outros garante apenas uma coisa: que você não estará vivendo para si mesma. Eu precisei entender que só porque alguém acha que sabe o que é melhor para mim, não significa que seja verdade. As expectativas deles pertencem a eles — não a mim.

Quanto mais eu deixava essa pressão de lado, mais leve me sentia. Agora, quando alguém me olha com incredulidade ao ouvir sobre meu estilo de vida, eu apenas sorrio.

Que pensem o que quiserem. Enquanto isso, estarei ocupada planejando minha próxima viagem e vivendo a vida que faz sentido para mim — e não para mais ninguém.

7) Eu meço o tempo em momentos, não em marcos tradicionais

A sociedade espera que sigamos um certo ritmo na vida — se formar em determinada idade, casar em outra, ter filhos logo depois. Parece uma lista de tarefas, e cada vez que você deixa de marcar um item, as pessoas começam a se perguntar o que há de errado com você.

Mas, para mim, a vida não é sobre cumprir prazos ou atingir marcos específicos. É sobre colecionar momentos.

Como assistir às luzes do norte dançando no céu da Islândia, sentindo que o universo estava me presenteando com um espetáculo exclusivo. Ou andar pelas ruas de Kyoto na temporada das cerejeiras, completamente alheia ao tempo enquanto as pétalas caíam ao meu redor como neve.

Sei que esses momentos não aparecem em um cronograma tradicional de “conquistas” da vida, mas eles me moldaram de formas que nem consigo descrever completamente.

Eles me ensinaram a viver o presente, a encontrar beleza nas pequenas coisas e a abraçar os desvios inesperados que surgem ao não seguir um caminho pré-determinado.

O tempo não é algo que eu meço pelo que conquistei aos olhos da sociedade — é algo que preencho com experiências que me fazem sentir viva.

Conclusão: O que realmente importa é a autenticidade

Viver uma vida que não se encaixa nas expectativas da sociedade exige coragem, mas também traz uma liberdade sem igual. O caminho que escolhi — cheio de exploração, incerteza e possibilidades infinitas — me ensinou que a realização não está presa a um único significado ou papel.

A escritora Anaïs Nin disse uma vez:

“A vida se contrai ou se expande na proporção da coragem de cada um.”

E eu realmente acredito nisso. Para mim, escolher expandir minha vida através de experiências, conexões e autodescoberta tem sido a decisão mais autêntica que eu poderia tomar.

Não se trata de rejeitar um modo de vida, mas de abraçar aquele que realmente ressoa comigo. Cada um de nós tem o direito de definir o que torna a vida significativa.

O que mais importa é ter a coragem de honrar essa verdade, mesmo quando ela não se alinha com o que os outros esperam.

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